“Um pé na barca outro na vinha”. Uma vida assim, de aventura e de trabalho, inventaram-na os amalfitanos, encravados entre o mar desafiante e a terra agreste. Ainda estava o primeiro milénio por findar e já havia nascido a primeira república marítima italiana, território de agricultores e de marinheiros de dura têmpera que se apressaram a lançar as quilhas dos barcos em direcção ao Oriente. As cúpulas de majólica dos duomos, assomando entre os terraços do casario, são perfeitos testemunhos do orientalismo da arquitectura e da arte amalfitanas.
O esplêndido maciço montanhoso que separa o Golfo de Nápoles do Golfo de Sorrento, quase impenetrável de tão profusamente acidentado, é bem mais do que um simples cenário a dar ensejo a um leque de paisagens de bilhete-postal - é literalmente a matriz natural da cultura amalfitana. O clima doce e a cálida tranquilidade do mar tudo devem ao impressionante colosso de pedra que é a Península de Sorrento. O caótico relevo apenas se suaviza, em breves colinas verdejantes, já perto de Sorrento.
A natureza áspera e bravia da costa, minuciosamente recortada, a desfiar fiordes, grutas e altíssimas falésias em mergulho constante sobre o Mar Tirreno, agraciou os amalfitanos com uma inexpugnável defesa contra os ataques de piratas e outros inimigos. Da benção do clima, dádiva excepcional, lograram tirar o melhor dos partidos, enxertando sabiamente na terra abrupta férteis terraços onde ainda hoje a luz e o calor pacientemente amadurecem esplêndidos frutos - limões, sobretudo, essas metamorfoses do sol com que a gente local inventa singulares licores, com algumas variantes bem imaginativas, como o limoncello, talvez o mais emblemático sabor da Costa de Amalfi.
Recanto de Sereias
A variedade paisagística, capaz de desafiar permanentemente a imaginação - e os sentidos - é certamente a quintessência da costa de Amalfi. O milagre será encontrar aí um lugar esquivo ao adjectivo panorâmico.
Quase no extremo do Golfo de Salerno, nas imediações de Sorrento, a pequena povoação de Sant'Agata sui due Golfi faz jus ao nome: das verdes colinas que a rodeiam o olhar alcança, para norte, o Golfo de Nápoles desenhado aos pés do Vesúvio, e, para leste, o contorno irrequieto e imprevisível da orla amalfitana. Do antigo ermitério das Carmelitas, o panorama revela-se perfeitamente circular. Para quem fizer de Nápoles - ou da simpática e bem mais tranquila Sorrento - o ponto de partida para uma visita à península e ao paraíso amalfitano, o mirante privilegiado de Sant'Agata sui due Golfi é uma etapa indispensável. Aí nos rendemos a uma das mais belas paisagens italianas, com a ilha de Capri sorrindo entre azul esmeraldino do Mar Tirreno.
As possibilidades de descoberta de praias recônditas, de grutas e de mirantes debruçados sobre um mar sempre transparente e convidativo, são quase infinitas. Alugar uma scooter ou um barco é uma forma de poder explorar melhor a costa.
As povoações amalfitanas podem apresentar-se, consoante a época e não só, como estâncias balneares altamente concorridas, vaidosas e cosmopolitas, ou como simples e tranquilas aldeias de pescadores. Amalfi e Positano enquadram-se, naturalmente, no primeiro caso, enquanto Praiano e Atrani se revelam bem mais sossegadas. Uma das maiores praias de costa, também bastante frequentada, é Marina del Cantone, a pouca distância de Sant'Agata sui due Golfi e debruçada sobre o Golfo de Positano. A toada doce do mar, polvilhado de barquinhos adormecidos, traz-nos à memória a verdade imponderável que habita as lendas: aqui teria sido um dia a morada das sereias que tentaram Ulisses...